Entrevista sobre A casa das orquídeas

1. Como você teve a ideia de escrever a A casa das orquídeas?
Tudo começou quando eu estava passando férias na Tailândia com meu marido – passei muito tempo nesse país quando era criança – e me deparei com um livro sobre orquídeas no nosso quarto de hotel. A história da jornada dessas flores, originalmente das florestas tropicais do exótico Oriente, e hoje disponíveis livremente no mundo todo (inclusive no meu canto frio do hemisfério norte em Norfolk), me pareceu uma premissa maravilhosa para um livro. Então, ao chegar em casa, conversei com uma amiga que acabara de herdar uma grande propriedade rural dos pais, mas estava prestes a vendê-la porque os impostos eram altos demais. A partir dessa conversa, criei Wharton Park, e assim surgiu o local onde a história iria se passar na Inglaterra.

2. O livro lida com temas como a Segunda Guerra Mundial. Como foram suas pesquisas?
Passei muito tempo conversando com pessoas, tanto na Inglaterra quanto na Tailândia, que tivessem histórias para contar sobre suas experiências. No livro, quem é mandado para o front e acaba sendo feito prisioneiro de guerra são lorde Harry Crawford e Bill, o jardineiro da propriedade. Tive muita sorte de achar na internet um diário escrito pelo sargento Jack Farrow, por acaso um nativo de Norfolk, que publicou o registro de quando foi prisioneiro em Changi. Isso me proporcionou o elo que eu precisava entre o Extremo Oriente e Norfolk.

3. A casa das orquídeas se tornou um sucesso de vendas internacional. Por que você acha que o livro foi tão bem-sucedido?
Acho que um dos motivos é que o livro fala sobre fé, esperança, amor e a bondade da natureza humana vencendo o mal. Muitos de nós que vivemos no mundo moderno nos perguntamos se perdemos nossa “bússola” moral. O passado, com seus valores de família, integridade e dever, proporciona reconforto e esperança para o futuro.

4. Por que as orquídeas são um elemento tão importante do livro?
As orquídeas são um elemento que perpassa o livro, desde a fábula no início até o final da história. As estufas de Wharton Park também desempenham um papel importante na trama e, é claro, Harry Crawford apelida Lidia de sua “flor de estufa” – sua “orquídea”.

5. No início do livro, a enlutada Julia volta para Wharton Park, onde foi criada. O que isso nos diz em relação ao significado de “lar” nesta história?
Wharton Park em si é um dos personagens centrais do livro. Há um momento na história em que Julia percebe que Wharton Park não pertence aos Crawfords; são eles que pertencem à casa. Acho que a palavra “lar” tende a significar a mesma coisa para todos os seres humanos: é um lugar onde a sua história está e que lhe proporciona segurança e proteção.

6. O livro conta uma história romântica, mas verossímil. Como seus leitores reagiram a isso?
Para ser sincera, quando escrevo a primeira versão da história, é para mim mesma que estou escrevendo, não para um público. Então eu não sabia o que os leitores iriam pensar ou sentir. O fato de tantos exemplares dos meus livros serem vendidos mundo afora tem sido uma surpresa maravilhosa. E recebi alguns e-mails e cartas incríveis de leitores dizendo como o livro os fez chorar.

7. Quem são seus personagens preferidos no livro? E, na hora em que estava escrevendo, você sentiu raiva de Harry ou de Xavier?
Bill e Elsie com certeza são meus preferidos – muito leais e confiáveis. Não, eu não senti raiva nenhuma de Harry; ele foi obrigado a tomar uma decisão de partir o coração: seguir seu amor ou ficar para cumprir seu dever. Já Xavier… bem, ele não passa de um homem fraco e egoísta, e todos nós conhecemos pelo menos uma pessoa assim…

8. O vínculo entre a exótica Tailândia e Norfolk é metafórico?
Dois dos meus lugares preferidos no mundo são a Tailândia e Norfolk, e eu queria incluir ambos no meu livro. A aridez da paisagem de Norfolk espelha a tristeza de Julia, e o calor da Tailândia é uma metáfora dos sentimentos apaixonados que Harry tem por Lidia.

9. É difícil escrever uma história épica sem se tornar previsível?
Eu tenho noção dos clichês, mas nunca sei o que vai acontecer de um dia para outro quando estou escrevendo a história, pois quem assume as rédeas são os personagens, eles fazem o que bem entendem. Então isso nunca foi um problema. Por enquanto…

10. A casa das orquídeas é sob muitos aspectos um livro sobre como as decisões difíceis que precisamos tomar afetam nossas vidas. Mas, às vezes, não é impossível distinguir o certo do errado?
Sim, às vezes é, mas acredito que as pessoas raramente fazem algo que consideram errado. Acredito muito em escutar meus instintos quando se trata de tomar grandes decisões. Eles raramente me guiam na direção errada. Mas ai de mim se eu não os escutar…

11. O amor desempenha um papel importante no livro. Você acredita num amor que vence tudo – inclusive a traição e a mentira?
Não, infelizmente. Muito embora no fundo eu seja uma romântica, não acredito que o amor possa vencer tudo. Isso fica claro na triste situação em que Harry e Lidia se veem mais para o final do livro. Muitas vezes as pessoas precisam escolher entre mente e coração, como faz Harry ao se dar conta de que nunca poderá ficar com Lidia.

12. Julia Forrester, sua heroína de A casa das orquídeas, é forte e aceita seu sofrimento. Você acha que o sofrimento tem um lado positivo?
Julia percorre um longo caminho para ir do desespero à alegria, e o único modo de chegar à felicidade que sente no fim é aceitando as tristezas do passado. A vida de todos nós contém alegria e tristeza, e elas criam um equilíbrio. Como diz Aurora, narradora de A garota do penhasco, como saber que você está feliz se você nunca tiver ficado triste? Essa é a balança da vida, e a única coisa que podemos fazer é aproveitar um dia de cada vez. Como diz Julia no fim do livro: “Tudo que temos é o momento presente.” Creio que essa seja uma jornada que todos precisamos fazer se quisermos ter um futuro mais positivo. Acho que o perdão e a compreensão do que veio antes são essenciais para se alcançar a felicidade e a paz.

13. Você aprendeu alguma coisa escrevendo A casa das orquídeas?
Escrevi A casa das orquídeas sem qualquer tipo de contrato. Foi um trabalho feito por amor, e eu escrevi o livro para mim. Despejei minhas emoções no papel sem pensar que alguma outra pessoa fosse ler aquilo. Talvez agora a coisa mais importante que eu tenha aprendido foi que você deve sempre escrever com o coração e nunca tentar pensar se aquilo vai vender.