Entrevista sobre A árvore dos anjos
1. O que a fez decidir reescrever Not Quite an Angel?
Not Quite an Angel foi lançado originalmente em 1995, um dos oito livros que eu havia publicado com meu antigo pseudônimo, Lucinda Edmonds. Em 2013, alguns de meus editores me perguntaram sobre meus títulos mais antigos e eu disse que todos estavam atualmente fora de catálogo, mas eles me pediram alguns exemplares. Então lá fui eu até meu sótão resgatar os livros que escrevera tantos anos antes. Sem exagero: estavam todos cobertos de cocô de camundongo, teias de aranha e com cheiro de mofo, mas eu os enviei, explicando que era uma escritora muito jovem e que entenderia perfeitamente se eles quisessem jogá-los no lixo na hora. Para minha surpresa, a reação foi incrivelmente positiva, e eles me perguntaram se eu gostaria de relançá-los.
Eu disse que iria pensar, pois havia começado o primeiro livro da série “As Sete Irmãs” naquela época. Então me sentei para ler Aria. Eu não me lembrava de uma palavra sequer, e me surpreendi virando as páginas do meu próprio livro para saber o que aconteceria.
Após ser inteiramente reescrito, Aria foi publicado em 2014 como A garota italiana. Decidi atacar em seguida Not Quite An Angel, e mudei o título para A árvore dos anjos. Ele foi lançado primeiro na Alemanha, em novembro de 2014, e foi direto para o primeiro lugar da lista de mais vendidos do Der Spiegel. Fiquei pasma!
2. Como você transformou o romance original Not Quite An Angel em A árvore dos anjos? Como acha que a sua escrita mudou desde então?
Eu diria que a experiência com certeza me fez crescer como escritora, e me sinto muito sortuda por ter a oportunidade de melhorar meus livros. O distanciamento é uma coisa maravilhosa e, com a ajuda do tempo, consigo ver os pontos fortes e fracos tanto das histórias quanto dos personagens. Eu era bem mais nova quando escrevi meus primeiros romances – tinha 20 e poucos anos. Ao reler alguns deles hoje, percebo como meu ponto de vista era ingênuo. Atualmente, torço para meus personagens terem muito mais profundidade e consigo usar algumas das minhas próprias experiências ao criá-los. A expressão “mais velha e mais experiente” soa muito verdadeira. Sinto que antes era uma contadora de histórias, mas hoje sou também escritora.
Em A árvore dos anjos, decidi fazer uma mudança fundamental na história: no romance original, Greta morre no acidente de carro, mas quando reescrevi a trama achei melhor mantê-la viva, mesmo que com amnésia e nem de longe a mesma pessoa que era antes, o que aumentou a carga dramática e a emoção dos relacionamentos entre os personagens principais. Isso me pareceu bem esquisito, pois eu estava lidando com dois caminhos de uma mesma história, a diferença entre viver e morrer e as consequências da sobrevivência de Greta para a trama e os outros personagens.
3. Qual foi a sua inspiração inicial para Not Quite An Angel / A árvore dos anjos?
Quando eu era uma jovem atriz no teatro londrino, e também no cinema e na TV, conheci algumas figuras fascinantes. Os atores, em especial, tendem a ser pessoas atormentadas, cuja face “pública” com frequência é bem diferente da realidade do ser humano que existe por trás. A não ser, claro, que eles comecem a acreditar no próprio mito e no mundo de fantasia em que habitam, como é o caso de Cheska. Quando conheci meu marido, Stephen, alguns anos depois de escrever o livro, descobri que ele havia conhecido alguém bem parecido com Cheska…
Eu também já tivera a experiência de estar sob os holofotes, e como tenho vários amigos próximos que são famosos nas suas áreas ou casados com alguém que o é, aprendi em primeira mão como a fama pode afetar as pessoas. Todo o conceito de fama me aterroriza, de modo que, quando eu estava escrevendo sobre Cheska e os extremos da sua fama e falta de liberdade, depositei nisso boa parte dos meus próprios medos. Para ser sincera, não entendo por que alguém mudaria de vida para buscar a fama pela fama, como parecem fazer as estrelas dos reality shows hoje em dia. Eu valorizo e protejo minha vida privada e minha família – são eles que mantem minha sanidade.
4. No centro de A árvore dos anjos estão vários tipos de relacionamentos entre mãe e filha. Para você, em que o amor entre mãe e filho/filha é diferente de qualquer outro tipo de amor?
Acredito que o amor que as mães têm pelos filhos – de ambos os sexos – é provavelmente a força mais poderosa do planeta. Existe uma conexão muito profunda entre mães e filhos, e se você perguntar a qualquer mãe, ela será capaz de contar uma história sobre algum instinto que teve em relação ao filho que se revelou correto. As mães, tanto no reino animal quanto entre os humanos, são capazes de coisas extraordinárias para proteger e cuidar de suas crias.
Isso não quer dizer que todas as mães sejam perfeitas. Em A árvore dos anjos nós vemos alguns péssimos exemplos de maternidade. Cheska abandona a própria filha, e posteriormente é uma influência tóxica e perigosa para Ava. E as ambições de Greta em relação à Cheska pioram cada vez mais a saúde mental de sua filha. Também podemos ver como alguns comportamentos são transmitidos de mãe para filha, e quem tem a sorte de escapar desse círculo vicioso é Ava, ao encontrar em LJ uma mãe postiça.
5. Por que você escolheu Monmothshire, no País de Gales?
Os lugares sempre parecem encontrar a mim. Estive em Monmothshire muitos anos atrás, e me apaixonei por sua beleza selvagem. É uma das regiões mais lindas da Grã-Bretanha.
6. A árvore dos anjos abarca um período de quarenta anos. Você gostou mais de escrever a parte antiga ou a moderna?
Adoro o fato de poder escrever sobre as duas épocas e ser capaz de refletir e destacar as mudanças na sociedade ao longo do último século, sobretudo para as mulheres.
Eu escrevo duas histórias num livro só, em geral com um elenco de personagens totalmente diferente em cada uma. E às vezes, sobretudo nas partes do livro que transcorrem no passado, sinto como se a história fosse contada para mim, muito embora os fios tanto do passado quanto do presente sejam muitas vezes complexos. Tudo parece se juntar de modo holístico no final.
7. Marchmont Hall funciona como uma espécie de âncora para os diversos personagens do livro, principalmente Ava. Qual a importância do conceito de “lar” na sua escrita e na sua vida pessoal?
A busca por um “lar” é um tema conhecido na literatura por ser profundamente humano. Marchmont Hall é uma presença muito gótica, que ao mesmo tempo abriga e aprisiona seus diversos habitantes. Percebo que em muitos dos meus livros, inclusive em A árvore dos anjos, meus personagens embarcam em uma jornada em busca do lar metafórico dentro de si mesmos e daqueles à sua volta com quem se sentem “em casa”.
8. Para você, quais são os principais temas do livro?
Os vínculos familiares – bons e ruins –, o perdão, e, claro, a esperança para o futuro. Isso é tudo de que nós humanos dispomos para nos fazer seguir em frente. Ah, e uma casa extremamente sugestiva, com uma personalidade própria bem definida.