Entrevista sobre O segredo de Helena

1. Este livro foi escrito em 2006. Por que demorou tanto para ser lançado? Você modificou muito a história em relação à versão original?
Originalmente escrevi esta história para mim mesma depois de passar férias com a minha família em Chipre. Foi mais para manter meu cérebro estimulado em meio à tarefa de alimentar crianças pequenas e a incontáveis exibições de Thomas e seus amigos. Guardei o manuscrito, meus filhos cresceram, escrevi outros livros… Então, no ano passado, estava arrumando uma gaveta da escrivaninha quando o redescobri. Foi fascinante lê-lo e recordar uma época em que as crianças eram mais novas. Embora os personagens tenham permanecido os mesmos, a trama foi consideravelmente modificada mais para o fim: com a vantagem da retrospectiva de uma década, consegui trazer a família para os dias de hoje.

2. Em que medida você baseou os personagens na sua própria família?
Quando escrevi O segredo de Helena, nossos cinco filhos tinham idades semelhantes às das crianças do livro, e nós também estávamos hospedando parentes e amigos. Embora boa parte da trama e dos personagens seja fictícia, não resta dúvida de que este livro foi o mais perto que cheguei de usar minha própria experiência de vida como mãe, madrasta, esposa e bailarina.

3. Por que escolher Chipre como ambientação?
Pandora, a linda casa na qual transcorre a maior parte de O segredo de Helena, é baseada na antiga villa em que me hospedei com minha família dez anos atrás, nos arredores de Kathikas. As casas antigas sempre me inspiraram, e essa villa era cercada por lindos e antiquíssimos olivais sobre os quais eu simplesmente precisava escrever.

4. Um dos aspectos mais divertidos e sensíveis do livro é a voz de Alex. Quão difícil foi entrar na mente de um menino de 13 anos?
Não foi nada difícil, bastou eu escutar meu próprio filho de 13 anos na época! Eu adorei escrever os registros do diário de Alex. Foi realmente revigorante escrever uma voz totalmente diferente: Alex adora jogos de palavras e tem um ótimo senso de humor e ironia. Como, em geral, escrevo histórias mais dramáticas, sem muito espaço para risadas, aproveitei a oportunidade para ser leve, e escrever O segredo de Helena certamente me desafiou – e, espero, me aprimorou – como escritora.

Na primeira vez em que reli o manuscrito original, percebi que o livro era um diário da infância dos meus filhos, congelado no tempo. Sou abençoada por ter um relacionamento muito próximo com eles, então foi muito fácil para mim me colocar no lugar de Alex.

5. Você aborda diferentes tipos de relacionamentos amorosos neste livro. Foi algo que você se propôs a fazer?
Não foi algo que eu tenha tentado fazer de modo deliberado; simplesmente aconteceu de forma orgânica à medida que escrevia. Neste livro, mais do que em qualquer outro que eu já tenha escrito, olhei a minha volta e busquei inspiração nas pessoas que amava. Em nossas vidas, existem muitos tipos diferentes de amor que nos tocam e afetam diariamente: o amor por um filho, por um marido, por um pai ou mãe, por um amigo… Todos eles são especiais e valiosos à sua própria maneira.

6. A história inclui algumas referências mitológicas. Isso foi de alguma forma um precursor do que viria a se tornar a série “As Sete Irmãs”?
Sempre tive interesse por mitologia, desde menina. E é claro que estando em Chipre, um país tão cheio de lendas de inspiração grega, tive uma desculpa fantástica para dar livre curso à minha paixão. Na série “As Sete Irmãs”, que comecei a escrever cinco anos depois de O segredo de Helena, a mitologia é importante para a trama e está muito mais em primeiro plano, enquanto que, em O segredo de Helena, ela é usada para incrementar a atmosfera e a narrativa.

7. Este livro representou uma distinção em sua narrativa, pois é ambientado sobretudo nos dias atuais. Você enfrentou algum desafio específico? Você sentiu confiança de que seus leitores iriam gostar dele tanto quanto dos outros?
Sim, é verdade, já que ele não tem o contexto histórico mais amplo nem o intervalo de cem anos pelo qual me tornei conhecida. Devo confessar que estava muito nervosa com o modo como meus leitores iriam reagir a O segredo de Helena, mas, ao mesmo tempo, acho importante os escritores às vezes se colocarem em lugares diferentes, assim se reinventam. Mesmo correndo o risco de perder um ou outro leitor pelo caminho. Felizmente, até agora, meus leitores têm apoiado O segredo de Helena, entendido que é um livro diferente para mim e o lido sob essa perspectiva, sem compará-lo aos outros.

8. O balé é obviamente uma grande paixão para Helena. Você também gosta?
Passei toda minha infância querendo ser a próxima Margot Fonteyn. Dancei balé clássico dos 3 aos 16 anos, então conheço muito bem o tipo de vida que uma bailarina leva. Os exercícios de barra que Helena faz todo dia são os mesmos que eu faço. Talvez por ter sempre passado boa parte do meu dia com uma perna ou outra no ar e fazendo jetés pela sala, acho difícil ficar parada. Minhas melhores ideias surgem quando estou em movimento, ou com frequência me alongando em posições bem estranhas!

9. Ao chegar em Chipre, Helena encontra um fantasma do passado: seu primeiro amor. Isso desestabiliza sua relação com o marido. Você acha que esse é um fenômeno comum?
Muito! Primeiros amores podem ser realmente perigosos: eles podem literalmente se transformar em “Adônis” na sua imaginação. Você esquece os anos transcorridos desde então e todos os maus hábitos deles. Helena vê de longe o filho do seu primeiro amor e acha que ele é Alexis, pois o filho tem a mesma idade que ele tinha ao conhecer Helena pela primeira vez, 26 anos antes. Isso desperta toda uma série de sentimentos há muito enterrados dentro dela.

Acho que ninguém esquece o primeiro amor, mesmo que a realidade possa não estar à altura do retrato que se teve em mente ao longo dos anos. No meu caso, ela certamente não estava!

10. Você gostaria de escrever mais livros desse tipo no futuro?
Vou estar ocupada nos próximos anos trabalhando na série “As Sete Irmãs”, além de muito envolvida com a adaptação televisiva prevista, mas sim, eu gostaria muito de escrever outra história contemporânea. Já tenho várias ideias sobre o que escrever depois das Sete Irmãs… mas por enquanto não direi mais nada sobre isso!